terça-feira, 11 de maio de 2010

Educar: quem, como, para quê, por quê?


Cada pessoa é um ser contigente. A evolução biológica criou as espécies, a evolução social deu forma a cada sociedade. Não há uma significação absoluta/verdadeira a ser alcançada. Mas, apesar de não acreditarmos num bem absoluto, podemos valorizar tudo de bom que conhecemos e, não acreditando num "mal" absoluto, lutamos contra o que acreditamos ser um mal. Mesmo vivendo numa sociedade cada pessoa não deixa de ser um indivíduo. A tensão dinâmica entre esquemas sociais e esquemas individuais propicia um espaço no qual a liberdade pode ser construída/definida. O objetivo da educação é construir uma plataforma que possibilite este este espaço de liberdade e mudança.

ARBID, M., HESSE, M. The construction of reality. Cambridge University Press, 1987.


E você, o que pensa sobre o EDUCAR?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Tipos de Mãe!

Lannoy Dorin

Numa pesquisa que fizemos há algum tempo, alunas de uma escola de nível médio indicaram os seguintes tipos de mãe:

1-Mãe superprotetora. É aquela que faz tudo pela criança e não a deixa pensar, decidir e agir sozinha. É a mãe loba, a mãe de miss, que amamenta e protege, mas que também impede o processo de individuação da filha (ou do filho), o processo de busca da auto-identidade da criança e da jovem.
As conseqüências de comportamentos superprotetores da mãe são as mesmas dos comportamentos de rejeição: a criança é insegura, dependente e incapaz de resolver seus próprios problemas e integrar-se na vida social.
Esse tipo de criança insegura espera de sua professora o que sua mãe faz por ela, mãe que, quando a filhinha briga na escola, sem saber das reais razões, volta-se contra a professora e a diretora

2-Mãe agressiva. Soltando fogo pela boca o dia todo, esta mãe, poço de conflitos e frustrações que vêm desde a infância, contesta tudo que a criança diz, sente ou faz. Não conversa com os filhos e pensa que o castigo modifica a conduta deles. Exige antes de dar e pune antes de perguntar. Aconselhar? Isto está fora de seu estilo.
A criança que tem uma mãe agressiva teme quem teria de amar. Você já pensou que influência tem isso no comportamento daquela que no futuro será namorada, depois mãe e mais tarde avó?
Na escola, a criança vítima desse tipo de mãe é a agressiva com as colegas mais fracas e medrosa e apática em relação às mais fortes. Por exemplo, em atividades de grupo, esconde-se, para evitar as mais impulsivas, e nas atividades ordenadas pela professora é apática, isto é, não faz as lições senão a muito custo.
A criança filha de mãe agressiva não aprende a se relacionar socialmente de modo sadio e vive desconfiada de todo mundo. Não chora, mas não ri. É amarga e apenas sorri quando algo de ruim acontece com as outras meninas.

3-Mãe autoritária. É a que vive "pegando no pé" dos filhos. Perfeccionista, impõe e cobra um comportamento adulto da criança. Não deixa a filha brincar e é incapaz de sorrir. A conseqüência disto é uma criança dependente, que se isola para evitar a mãe "militar" e pessoas que dão ordens. Na escola, só obedece quem fala mais alto, quem realmente manda e castiga se não for obedecida. Porém, quando surge uma oportunidade para agir sem ser observada, é destrutiva.
Assim como a filha da mãe agressiva é revoltada, a da autoritária é destrutiva.

4-Mãe tímida. É a quieta e tristonha, fechada e infeliz. Quase não se comunica. Ora tem medo de ser dominadora e exigente, ora de ser permissiva e bondosa demais. Enfim, está sempre dizendo, sentindo e agindo de modo oposto ao que diz sua razão, seu ego.
No relacionamento com marido e filhos, é pessoa apagada e incapaz de levar adiante um diálogo. E quando tenta se relacionar consigo mesma, vê-se corno um ser vazio, que tem medo de sondar as causas de sua vida sem sentido.
A criança com mãe desse tipo tem medo de falar, de conversar, entabular relações afetivas mais duradouras. Vive fechada em seu mundo oco, uma espécie de casa grande vazia. Encapsulada, vive entre aspas, um mundo imaginário. Lamenta o passado, sonha com o futuro e não consegue viver o presente. Será o adulto que viverá só para si; será ensimesmado e improdutivo em termos de vida social.

5- Mãe "histérica". É o modelo da pessoa chamada neurótica. Vive gritando, porque não sabe dialogar, e quando sua insegurança atinge o máximo, representa o papel de criança, que ninguém entende, que sofre e que exige carinho.
A dita neurótica é a pessoa que não vive, mas representa que vive, tal qual uma atriz no palco. Tem reações infantis quando se vê frustrada ou em conflito. E não raro tem dores por todo a corpo e paralisias nos membros.
Com mãe imprevisível como essa, a criança vive assustada, de olhos arregalados e mãos tremendo. Se não ficar gaga, terá tiques nervosos, como o piscar demais. Com tendência à obesidade, comerá demais quando ansiosa. Se for do tipo magro, será esquelética e pálida.
Imitando a mãe, a criança "histérica" será desobediente para chamar a atenção e terá uma vida exterior aparentemente saudável: fala, grita, brinca, etc., mas nunca revela seu mundo interior, que é o oposto do que ela apresenta.
O oposto da criança acima, ou seja, a que não segue a mãe, é a retraída, tímida, quieta, ausente e... infeliz.

6- Mãe adulta. Responsável, ensina as crianças pelo exemplo. Sabe a hora de brincar e a de falar sério. Dialoga com os filhos adolescentes. Não se opõe ao marido na frente dos filhos e exige dele o mesmo respeito. Quer ordem e disciplina, mas não através de ameaças de castigo. É capaz de mostrar na prática que algumas regras são básicas para uma vida organizada. Ponderada, nunca julga à primeira vista. Contesta e aceita ser contestada, respeitosamente. Não transmite aos filhos preconceitos e não discrimina as pessoas pelas aparências, idéias ou sentimentos. Vibra com o sucesso dos filhos, porque é amiga e caminha com eles. Em suma, entende o que seja mutualidade. Por isso dá antes de exigir. Não impõe demais e nem faz chantagem. Caminha para a frente e os filhos vão atrás, queira ou não o marido. Faz pelos outros o que serve para fortalecê-la. Por ex., ao ajudar o próximo percebe que só dá quem tem, e esse ato engrandece o doador. E educadora e terapeuta. Transforma o mundo que a cerca, e nessa luta se transforma para melhor. Não vive das sombras do passado e nem das ilusões do futuro. Tem os pés no chão. Segue o Torá: “Não faças a teu próximo o que a ti te resulta odioso”.
A criança que tem uma mãe adulta, na escola será sociável, amistosa, alegre e produtiva. Exercerá algum tipo de liderança, sem dúvida, mas saberá respeitar a individualidade dos colegas. Não agride ninguém, mas sabe dar o troco se for agredida. Responsável, aceita seus erros, mas não fica a se lastimar. Olha para a frente e assume seu novo papel.
Como a mãe adulta não é egocêntrica, vai ensinando a filha a ser autônoma, não dependente, autêntica, sociável e objetiva.



Na verdade, esses não são tipos de mãe, mas sim traços, características que todas as mulheres e todos os homens possuem. Ao apontar uma mãe como histérica ou autoritária, a adolescente está realçando um traço, um atributo que é bem periférico, perceptível. freqüente. Mas, como disse o Mestre, “não julgues para não seres julgado". O melhor é não julgar, mas discutir.
Em Psicologia Clínica não se analisam os traços das pessoas como bons ou maus. O psicólogo clínico (psicoterapeuta) não é um moralista, figura antipática por natureza. Ele ajuda o cliente a avaliar-se, a ver se seus traços de personalidade mais estáveis estão permitindo um viver saudável.
www.comportamentohumano.net



Parabéns a todas as mães por seu dia!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Educação com afeto

"Receber educação é um direito de todos, assegurado pela Constituição Brasileira. No entanto, a maioria permanece à margem desse direito, pois ainda não teve a chance de adentrar no mundo dos saberes, dos conhecimentos e das técnicas.

O homem só se desenvolve plenamente pela educação e por sua relação com os outros, em que a troca de conhecimentos e experiências proporcionarão construir sua história de vida. Para isso, precisamos investir e contribuir com nosso trabalho, na construção de uma pedagogia na qual ele resgate sua auto-estima e demonstre sem nenhum medo a sua capacidade de afeto, ficando feliz com a felicidade do outro. Precisamos construir e reconstruir o mundo a partir de laços afetivos que tornem as pessoas e as situações preciosas, portadoras de valor.

A retomada desses laços será possível por meio de um processo educativo voltado para este fim, buscando novas vertentes que levem o homem a redescobrir-se no que tange a seu afetivo emocional, cabendo aos educadores e professores essa ação incentivadora, valorizando o ser humano, a pessoa, aqui representada na categoria de aluno.

Ao demonstrar afetividade no relacionamento educando/educador, estamos investindo numa educação com qualidade humana, capaz de reverter a aprendizagem mecânica e fria que assola a maioria das salas de aula."


( Trecho do texto de Ester Ratis de Santana: Pedagoga. Mestre em Educação. São Luís / MA. E-mail: eratis@zipmail.com.br - Retirado da Revista do Professor – Ano 23 – Número 92 – outubro/dezembro 2007 )


Fonte: http://paixaodeeducar2.blogspot.com/

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Medo do medo

Lya Luft*
"Querendo ser politicamente corretos, estamos cometendo
um triste engano, deformando histórias e até cantigas
que fazem parte do nosso imaginário mais básico
"
Tenho observado alguns esforços psicopedagógicos no sentido de tornar nossas crianças politicamente corretas - postura que muitas vezes nos transforma em seres tediosos, sem graça nem fervor. Contos de fadas, por exemplo, alimento da minha alma de criança, raiz de quase toda a minha obra adulta, sobretudo romances e contos, foram originalmente - dizem estudiosos -narrativas populares, orais, de povos muito antigos. Assim eles representavam e tentavam controlar seus medos e dúvidas, carentes das quase excessivas informações científicas de que hoje dispomos. Nascimento e morte, sexo, sol e lua, raios e trovões, o brotar das colheitas lhes pareciam misteriosos, portanto fascinantes.
Muito mais recentemente, escritores como Andersen e os irmãos Grimm adaptaram tais relatos ao mundo infantil e criaram suas maravilhosas histórias, que unem, como a vida real, o belo e o sinistro. Uma sereia quer pernas para namorar seu príncipe na praia, mas o sacrifício é terrível, a cada passo de suas novas pernas, dores inimagináveis a dilaceram. Uma princesa, sua família, séquito e criados do castelo dormem um sono profundo, maldição de uma fada má, e só serão libertados pelo príncipe salvador - que, é claro, sempre aparece. Branca de Neve, Rapunzel e dezenas de outros personagens alimentaram nossa fantasia e continuam a alimentar a das crianças que têm sorte, cujos pais e escolas lhes proporcionam contato cotidiano com esses livros.
Porém, faz algum tempo, há um movimento para reformular tais relatos, tirando-lhes sua essência, isto é, o misterioso e até o assustador. Lobos seriam bobalhões e vovozinhas umas pândegas, só existiriam fadas boas, e as bruxas, ah, essas passam a ser velhotas azaradas. Até cantigas de roda seculares tendem a ser distorcidas, pois atirar um pau num gato é uma crueldade, como se fosse preciso explicar isso para as crianças saberem que animais a gente ama e cuida - se é assim que se faz em casa.
Vejo em tudo isso um engano e um atraso. Impedindo nossas crianças do natural contato com essas antiquíssimas histórias, que retratam as possibilidades boas e negativas do mundo, nós as deixamos despreparadas para a vida, cujos perigos entram hoje em seus quartos, rondam escolas e clubes, esperam na esquina com um revólver na mão de um drogado, ou de um psicopata lúcido e frio, sem falar nos insidiosos pedófilos na internet.
Estamos emburrecendo nossas crianças e jovens, mesmo querendo seu bem? E, afinal, o que será o seu bem? Ignorar o que existe de sombrio e mau, caminhar feito João e Maria alegrinhos, não abandonados pelos pais, mas procurando borboletas no mato? Receio que a gente esteja cometendo um triste engano, deformando histórias e até cantigas que fazem parte do nosso imaginário mais básico com arquétipos humanos essenciais.
Em compensação, adolescentes e crianças procuram o encanto do misterioso lendo sobre vampiros, bruxos e avatares, vendo seus filmes e pesquisando na internet. Por que isso? - me perguntou recentemente um pai. Porque, neste momento de altíssima tecnologia, a alma humana busca a expectativa, o segredo e o susto. Precisa conhecer o mal para se acautelar e se proteger, o belo e o bom para crescer com esperança. Mas nós, pedagogos e pais, nem sempre seguros e informados, começamos a querer alisar excessivamente a estrada para eles, não lhes ensinando que o mal existe, assim como o bem, que o belo nos atrai, assim como o monstruoso, e que é preciso desenvolver discernimento (gosto dessa palavra), isto é, a capacidade de entender e distinguir o melhor do pior, a fim de fazer com mais clareza e segurança as inevitáveis escolhas.
Mas se, porque isso nos tranquiliza, tratamos as crianças como imbecis, e queremos nosso adolescente infantilizado por um longo tempo, exigindo-o cada vez menos em casa, na escola e nas universidades - embora deixando que se sexualize de forma precoce e criminosa -, vai ser difícil que tenham informação, capacidade de julgar e escolher, que seriam nosso maior e melhor legado para elas.


Fonte: http://veja.abril.com.br/310310/medo-p-024.shtml



*Lya Luft nasceu no dia 15 de setembro de 1938, em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul.

Por se tratar de cidade de colonização alemã, as crianças, em quase sua totalidade, falavam alemão, e os livros utilizados nas escolas vinham da Alemanha. Com onze anos, Lya decorava poemas de Goethe e Schiller.

Posteriormente, estudou em Porto Alegre (RS), onde se formou em pedagogia e letras anglo-germânicas.

Iniciou sua vida literária nos anos 60, como tradutora de literaturas em alemão e inglês. Lya Luft já traduziu para o português mais de cem livros. Entre outros, destacam-se traduções de Virginia Wolf, Reiner Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris Lessing, Günter Grass, Botho Strauss e Thomas Mann. Ela diz que traduzir é sua verdadeira profissão. E que faz tradução para ganhar dinheiro. Mas também porque gosta. Um trabalho que exige respeito. Seu desejo é aproximar o escritor estrangeiro do leitor brasileiro. Confessa que não pode ser inteiramente fiel, porque pode-se correr o risco de ninguém entender nada. Mas não faz um carnaval em cima do texto alheio, não inventa, não cria frases que não existem.

Obras:

  • Canções de limiar, 1964
  • Flauta doce, 1972
  • Matéria do cotidiano, 1978
  • As parceiras, 1980
  • A asa esquerda do anjo, 1981
  • Reunião de família, 1982
  • O quarto fechado, 1984
  • Mulher no palco, 1984
  • Exílio, 1987
  • O lado fatal, 1989
  • O rio do meio, 1996
  • Secreta mirada,1997
  • O ponto cego, 1999
  • Histórias do tempo, 2000
  • Mar de dentro, 2000
  • Perdas e ganhos, 2003
  • Histórias de bruxa boa, 2004
  • Pensar é transgredir, 2004
  • Para não dizer adeus, 2005
  • Em outras palavras, 2006
  • O silêncio dos amantes, 2008